quinta-feira, 9 de janeiro de 2020

Eu sempre soube que esse lugar era um grande doce, não doce branco que escurece os dentes e rouba energia.Mas doce que acolhe e energiza na medida certa para os primeiros vôos.Daqui de ontem, no recorte mediano do percurso que ja esboça um desenho, posso avistar a trajetoria de vôos, quedas, retorno ao início, vôos longos sem lugar de chegada, vôos certeiros e com destino. Vôos curtos e tímidos.Vôos altos e baixos. Vôos com e sem comunicação. Mas vôos. Sempre vôos.O esticar do corpo no movimento afirmativo da vida.Guiar na expectativa de enriquecer repertório de escrita e escuta de si e do mundo. Doce de água na limpeza das feridas de criança que corre pra pegar a bola, que cai e volta pra bicicleta, que não quer ir pra escola, que pisa descalço na terra,que se machuca nas engenhocas de sempre  "- Nao vai se machucar, menino!!!" Grande doce, outrora pequeno, mas sempre cabendo mais um.Uma.E tudo era festa, e tudo era vida, e tudo era doce na partilha de sorvete feito em casa em tabulheiro de colher.Em praias, Mc Donald, cinema Cisne ou mercado de final de semana. Tudo era doce e virava doce no cotidiano de relações que se fortaleciam pra além dos muros daqui. Ali na esquina, entravamos em contato com mundo, as vezes feio.As vezes inegociável.Mas o doce não era um lugar fixo.Era à espera de sábado a noite pelo som do motor que me ensinou a contar o tempo antes do relogio. É o som da vida que se faz presente no barulho que anuncia a hora de ir pra escola e a hora de brincar.É  Cronus,estruturante nos ensinamentos de tempo e espaço.É Cronus na aceleração do tempo de chegar e sair. E ontem foi tempo de chegar, mais uma vez. Mas dessa vez foi diferente,a agua doce tinha sabor de consciencia. Os vôos de hoje foram guiados pelo principio do feminino, por ora em direção a si, em camadas ainda desconhecidas, submersas, mas não mais escurecidas pelo medo.E do caleidoscópio de vivências um misto de paz e gratidão.Um silêncio molhado de afirmativa que o lugar dos doces é construção plural no infinito preciso  do instante do nós. Dadiva do encontro que se perpetua na escolha de quem fomos e quem somos. E certamente do que seremos.O tempo se curva ao milagre do amor na dinâmica da vida. Somos vôos e somos casa. Somos casa que impulsiona vôos.Nossa conexão se fez e se fará em qualquer circunstância.O tempo do medo se dissipa nas águas limpas que se movimentam no caminhar de todos. É escolha diária.É sim ao eu e ao nós. É escolha do hoje sempre. A casa dos doces se expande na pulsão uterina de vida, no universo por ora chamado de família.