segunda-feira, 29 de março de 2021

Heroinas


    As mãos se entrelaçam 

As mãos se entrelaçam para que a vida não se perca no tempo.
O fluxo é interrompido  na aceleração do mundo
O feminino se cala diante a história.
O feminino se cala para que nasça uma nova história. 

Essa se povoa de heróinas.
Nossas mães, nossas avós, nossas tias e vizinhas. 
Cortam na carne o feminino silenciado.
    Ocupam ruas, vielas e estradas.

São outras, são as mesmas.
São a possibilidade de outra realidade.
São a liberdade no recorte de tempo.
São pais em pele de mães.
São anciãs.
Na inquietude da busca que não cessa.

Na interrupção, a revolução.
A aridez é o discorrer do processo
É o verbo inconcluso.
É o sacrifício de outra instância.
É a possibilidade da integridade de todas.

Porque sempre fomos uma.
Na abundância e na falta
Porque sempre fomos uma
Na dor e na alegria
Porque sempre fomos uma
No renascer profundo do reencontro.

No fluxo do feminino restabelecido
Nos olhamos em silêncio.
Passado e presente.
Promessa de futuro.
Reconectando vida em estado de graça. 


sexta-feira, 19 de março de 2021

Quem somos nós?

Porque o não ,

o não é a antecipação tola de um possível talvez, 

num medo descabido em não se encarar pertencente

a imprevisível tarefa de reinventar-se no cotidiano plural do nós.

 A vivência se reduz a consciência
 em perder-se na multidão sem rosto
 e a dúvida  preenche os espaços 
com a sutileza de não ousar transpor 
a realidade que insistentemente nos desafia.

Até que ponto a fragilidade nos distância?

Até que ponto a fragilidade faz com que 
esqueçamos signos, símbolos e significados,
perdidos em arquivos de memórias sem registros.

Por que somos camadas, texturas, silêncios, intensidade e ar. 
Mas acima de tudo constante expansão no vir a ser de sempre. 
Expansão de ar que preenche vida em estado de histórias.
E esvazia na utópica tentativa de encontrar tudo aquilo que venha fazer sentido.


O que te faz pulsar no amanhecer de suas incertezas? 
O que te faz sentir na medida exata do que se é?

Por que ser é premissa, bênção inegociável 
no fluxo da reinvenção dos dias e das noites. 
Somos únicos na travessia do rio dos afetos, 
Ao distanciarmos lentamente da margem de projeções do mundo. 
Mundo feito de  Joãos, Josés, Anas e Marias 
na busca pelo equilíbrio de mediar tempo
 que escuta a voz da identidade.

Quem é você no jogo do tempo?

Porque não há unidade para gente.
Não há grandeza que catalogue, limite ou enquadre 
o milagre de ser .
Sintonizado na respiração compartilhada de vida 
que se constrói na relação livre de ser outro e o mesmo
 na esteira inédita do instante.