sábado, 24 de outubro de 2020

Artesão


Nossos pés lutam para continuar a busca incansável por tudo aquilo que sustente nossa existência. 

Os pés fincados no eixo de si, na árida estrada, ora solitaria, ora compartilhada de caminho que se caminha só.

Sol, somente sol. 

Luz que aquece alma e reafirma a vida.

Vida plural, farta na certeza de ser gente que vibra gente. Vida na inquietude de crescer alma apequenada nas estruturas do tempo sem tempo pro que realmente importa. 

Sem tempo pra sentir. 

Sentimos na subversão. 

Somos ação.

Na dor e na alegria de sermos artistas do cotidiano. Artesãos de ar, água, terra e fogo nos desdobramentos do caos.

Criação que rompe a membrana da distopia de um horizonte que se expande a medida que nossos medos são deixados como rastros de outro tempo.

Nossos olhares molhados se cruzam no infinito da fé e no horizonte da utopia cantamos juntos.

Feminino

Quando o feminino perde espaço em nossas vidas? Quando o feminino perde espaço em nossas relações? Quando o feminino passa erroneamente a ser associado ao fracasso frente uma sociedade com valores que ferem a humanidade naquilo que ela possui de mais importante; a perda da capacidade de amar.Porque lutar pela sobrevivência tem se distanciado tanto da possibilidade de vivenciar um feminino saudável em todas as suas instâncias?O capital subtrai todas as suas possibilidades: receptividade,empatia, cuidado,sensibilidade, cooperação, construindo um ideario de ego fortalecido no oposto: realização, assertividade, ação, combate, conquista e confronto. Ambas as polaridades em suas origens deveriam seguir juntas, entretanto o pior a ser constatado não se trata das cristalizacoes externas. Não! São elas, as internas que nos subtraem no oculto de uma ausência. Nas tentativas de guerrilha, nas lutas cotidianas, na busca pela dignidade, na busca de nosso pão de cada dia. Tão nosso, mas eternamente meu, na solidão de vencer a si, numa guerra desleal.Nao se vence a si silenciando vozes. Primeiramente não se trata de ganhar ou perder, mas de existir dignamente na integralidade de ser composto. Somos feminino e masculino, nas nossas construcoes basicas.Somos ação e amor. Vida e morte. Dentro e fora. De um contexto onde o feminino perdeu seu terreno de equilibrio com o masculino.A sociedade produtiva, a sociedade excitada, a sociedade esvaziada despoja o útero comum de suas entranhas e o vende na esquina a preço de banana. Como bugingangas na retroalimentacao de uma vida que não se sacia com nada que possui. Tudo é novidade e tudo é ultrapassado. A insatisfação nos acompanha em nossas práticas cotidianas e não sabemos o que comprar para curar a dor de uma ausência. Ou seria de uma existência ancorada em ausencias primordiais? O feminino é inimigo do capital. Ele é cicliclo, ele é caotico, ele é subjetivo, cuidadoso, não produtivo e selvagem. Mas ele faz parte das necessidades humanas principais. Nao adianta busca-lo em lugares pre fabricados, não adianta nega-lo, nao adianta silencia-lo. Ele faz parte de um todo, ele faz parte da gente. E como dialogar com feminino em tempos tão inóspitos.Como não sufoca-lo frente a sociedade que o desmerece e até o ridiculariza? Como não destrui lo na ignorância do fortalecimento de si? Como respeitar suas fases e suas luas no calendário comum de afetos? Como alimentar nosso feminino para que ele ouse se mostrar sem vergonha de não ser aceito? É no exercício cotidiano, na desconstrução de padrões, na construção de novas praticas, nos exercícios individuais e coletivos. É na aceitação do meu feminino na fragilidade de voz solitária.E no exercitar de outras vozes. É na aprendizagem de permitir se pequeno. É na vida simples. É na festa cotidiana. É na comunidade. É na vida de afetos. É entre eu e você. E o quanto de feminino vc permite viver realmente em sua vida?

Novo


O vórtice é o tempo hoje

Ele nos puxa para o fluxo

O fluxo intangível da vida.

Em estado de reinvenção cotidiana
Não há resistência que sobreviva
Na dimensão suspensa e rotatória
Daquele construído na aceleração
Aceleração produtiva do vazio

Que transborda nas expectativas
De ter tudo aquilo que o atravessa
E espreita utilidade da conquista
Conquista amorfa pela vez da inação.

Mente que corre, corpo que fica
Nas resistencias dos nós .
Nos que resistem nas cordas da utopia.
Do inteligir corpo, do inteligir tempo.

É pelo corpo e pelo tempo
No exercicio da aferição com a terra.
Que resistimos a fragmentação.
De dentro e de fora
Na conexao de si.
Na comunicação com o mundo.

Reintegrados a vida.

Seguimos
Resistindo,
reexistentes.
Inteiros,
atravessamos o vórtice.