terça-feira, 29 de dezembro de 2020

2020


O vórtice é o tempo hoje

Ele nos puxa para o fluxo

O fluxo intangível da vida.

Em estado de reinvenção cotidiana,
não há resistência que sobreviva
a dimensão suspensa e rotatória
daquele construído na aceleração.
Aceleração produtiva do vazio
Que transborda nas expectativas
de ter tudo que o atravessa

Mente que corre, corpo que fica
Nas correntezas  dos nós, na pausa do mundo.
Nos, que vive pelas cordas da utopia.
Do inteligir corpo, do inteligir tempo.
Do precisar afeto.

É pelo corpo e pelo tempo.
No exercício da aferição com a terra
Nas escolhas de presentificação do real,
em escavações da memória,
pelas estrelas que duram a eternidade do instante.
Que resistimos a fragmentação.
De dentro e de fora
Na conexão de si,
tentativa de alcance ao outro,
comunicação com o mundo.

Mundo que se expande a medida que olhamos pra dentro.
Nas galáxias adormecidas pelo medo,
em territórios férteis a serem ocupados,  
escalas a espera da música da vida.
No equilíbrio de si, gangorra do nós.
No ponto de saturação que tange ao coração.
Em silêncio e multidão.
No discorrer do núcleo a expansão.
Ponto preciso de escuta e expressão

Reintegrados a vida.

Seguimos
Resistindo,
reexistentes.
Inteiros,
atravessamos o vórtice.

domingo, 27 de dezembro de 2020

WHIPLASH-EM BUSCA DA PERFEIÇÃO



A primeira vez sempre a última chance. 

Aqui são várias camadas a serem superadas. 

Aqui são descidas e subidas no exercício do mergulhar dentro e emergir expressividade. 

Aqui é a câmera no mundo interior, com sutilezas de gestos e tentativas de contato. 

Porque a membrana da autoestima é tão frágil quanto o tímpano que corrige o som fora do tempo.A membrana da autoestima ganha força de irromper o universo do outro ao convida-la pra uma pizza quando  momentaneamente se é  aceito na melhor banda da melhor escola de música da cidade.Porque o impulso em atravessar o muro e chegar ao outro precisa de legitimidade. E a legitimação para a coerência de sua existência não abarca o que já se era desde sempre: baterista. 

Era preciso mais, era preciso a perfeição.  

Mas o que era a perfeição? 

Era a desterritorializacao de si, era o preenchimento do sacrifício pelo direito ao óbvio.Era vida em estado de sangue.Era a voz austera do metrônomo dentro e fora. Era a contagem na solidão. Era paixão invertida, era pulsão de morte, era azar e nunca sorte. Era abnegação.Era coragem de ser voz e mostrar seu valor para as celebridades da família. Era dor e muito raramente promessa de alegria.

Era o que se era, e isso deveria ser sua sentença de felicidade. Mas não.  

Era algoz de si, na busca por atalhos vãos. Era o professor que o agredia em comunhão com sua voz na multidão.Era a profundeza do martírio, na tarefa de se aferirem nos infernos de si.Num retorno de cicatrizes e lágrimas que talvez se curam amanhã ou que não se curam nunca mais. Pelos limites do corpo, pela imprecisão do tempo que não se curvam ao autoritarismo que ceifa o criativo, que ceifa a vida. 

É na ressignificacao de lugares, na perda pra se achar, na pausa pra se encontrar, que ambos se deparam com a imensidão do instante, palco da criação.E a criação é a liberdade do dialogo,ausência de cárcere, tempo solto a serviço da expressão da alma.Aluno fala, professor escuta, professor fala, aluno escuta e ninguem ensina nada a ninguem, compartilham experiências genuinas no oficio de ambos estarem no patamar da igualdade: são artistas.

A partilha do igual permite a precisão da nota, essa ja não importa ser perfeita, mas se é pela autenticidade em expandir e não mais limitar a batida do coração dos que vivem sua arte.