Ouço sua voz
Quando atravesso camadas submersas em mim.
Quando piso em meu eixo entregue a sorte.
Quando sinto o vento das coisas fugidias.
Quando o canto me leva as extremidades do sutil.
Quando paro no compasso para ser o que sou: mulher.
Porque ser mulher não é tarefa simples.
É trabalho cotidiano na relação com o mundo que desagua rios na carência em não tê-la.
É feminino sensível na mediação de tudo que pulsa.
É força no germinar tempo de florescer vida que desdobra vida.
Que ouve coração no exercício de chorar junto.
Aquecer ninho e não deixar sozinho.
No silenciamento de si, o lamento do mundo.
Mundo que não sabe lidar com ela.
Ela que se ajusta as demandas do mundo.
Mas também é festa desejante
Aguas profundas do nós
Vínculo, conexão, alquimia
Brincante do chão da gente.
Pelos palcos da noite e também do dia.
Quando o feminino perde espaço?
Quando negociamos o mais sagrado em nós?
Até que ponto alcançaremos estrelas e pisaremos nosso chão na utopia extraordinária do sentir.
Expansão pra dentro e pra fora.
Fora dos muros do medo.
Equilíbrio na troca com mundo.
Equilíbrio na troca com outro.
Equilíbrio.
Na corda bamba em viver.