quarta-feira, 17 de junho de 2020

Espelho


É preciso atravessar o espelho.
É preciso não ser refém do tempo.
É preciso seguir esvaziando-se de tudo que pesa.
É preciso perdoar a todas que ainda estão aqui. 

À todas que se expandiram 
nas possibilidades do instante
ao convergir luz e sombra 
em movimento de vida.

Vida que se desdobra nos limites do ser, 
no ritmo do outro, 
na pausa do tempo de respirar. 
Vida que convida 
pra submergir profundo 
e emergir pulsão, 
vida que se estica pelas paredes da razão, 
vida que não sabe ao certo a precisão do sim. 

Porque é preciso exercitar o sim! 
É  preciso regar o jardim e cuidar das flores que insistem em desabrochar na imensidão de si. 
É preciso não ser preciso fazer nada além de ser.
É  preciso soltar as mãos do que não foi, para segurar-se nas margens do eu. 
É preciso dar a mão a cada uma de nós numa prece, numa ciranda, na dança do tempo.
Porque é na escuta do tempo que se lê a vida, em suas entrelinhas de versos e canção, na prosa e na poesia, na leveza do entender-se composto de uma cartela de cores que não se limita ao papel.

São feixes de luz que transpassam as estrelas em sua tarefa de reinventar se na materialidade afirmativa do corpo.
 É pelo corpo que dialogamos com o ar na gravidade de ser o que se é, na desconstrução das pequenas certezas, na libertação da imagem, nas mãos vazias para poder tocar. Pq a plenitude é consciência da escuta e da fala de todas as vozes presas pelo medo. Medo de ser além do que se pode. Medo de ousar chegar a si como quem toca o céu. Medo de não caber na história de quem acolhe.Medo de ser peso além da medida.Medo.Desejo que vai além do horizonte e reconstroi a consciência do seu lugar. Lugar do afeto de si na travessia incontrolavel do mundo. Criação na ação de ser milagre do instante que deságua no equilíbrio de encontros e desencontros. Emoção na entrega ao exercício primeiro em caminhar inteira de novo, sempre e mais uma vez.

Nenhum comentário:

Postar um comentário