domingo, 27 de dezembro de 2020

WHIPLASH-EM BUSCA DA PERFEIÇÃO



A primeira vez sempre a última chance. 

Aqui são várias camadas a serem superadas. 

Aqui são descidas e subidas no exercício do mergulhar dentro e emergir expressividade. 

Aqui é a câmera no mundo interior, com sutilezas de gestos e tentativas de contato. 

Porque a membrana da autoestima é tão frágil quanto o tímpano que corrige o som fora do tempo.A membrana da autoestima ganha força de irromper o universo do outro ao convida-la pra uma pizza quando  momentaneamente se é  aceito na melhor banda da melhor escola de música da cidade.Porque o impulso em atravessar o muro e chegar ao outro precisa de legitimidade. E a legitimação para a coerência de sua existência não abarca o que já se era desde sempre: baterista. 

Era preciso mais, era preciso a perfeição.  

Mas o que era a perfeição? 

Era a desterritorializacao de si, era o preenchimento do sacrifício pelo direito ao óbvio.Era vida em estado de sangue.Era a voz austera do metrônomo dentro e fora. Era a contagem na solidão. Era paixão invertida, era pulsão de morte, era azar e nunca sorte. Era abnegação.Era coragem de ser voz e mostrar seu valor para as celebridades da família. Era dor e muito raramente promessa de alegria.

Era o que se era, e isso deveria ser sua sentença de felicidade. Mas não.  

Era algoz de si, na busca por atalhos vãos. Era o professor que o agredia em comunhão com sua voz na multidão.Era a profundeza do martírio, na tarefa de se aferirem nos infernos de si.Num retorno de cicatrizes e lágrimas que talvez se curam amanhã ou que não se curam nunca mais. Pelos limites do corpo, pela imprecisão do tempo que não se curvam ao autoritarismo que ceifa o criativo, que ceifa a vida. 

É na ressignificacao de lugares, na perda pra se achar, na pausa pra se encontrar, que ambos se deparam com a imensidão do instante, palco da criação.E a criação é a liberdade do dialogo,ausência de cárcere, tempo solto a serviço da expressão da alma.Aluno fala, professor escuta, professor fala, aluno escuta e ninguem ensina nada a ninguem, compartilham experiências genuinas no oficio de ambos estarem no patamar da igualdade: são artistas.

A partilha do igual permite a precisão da nota, essa ja não importa ser perfeita, mas se é pela autenticidade em expandir e não mais limitar a batida do coração dos que vivem sua arte.

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