Quando eramos mais jovens, existiam umas frases clássicas que país e mães usavam para advertir a gente, essas sempre me soavam estranhas.Quem nunca ouviu " quem anda com porco farelo come?",ou " Você não é todo mundo!" e a que mais me intrigava " Se vc não se ama, não ama ninguém!"
Sempre achei esse papo muito solitário, como assim amar a si para eu poder amar o outro? Na ânsia em interagir, eu queria logo era trocar com o outro, descobrir o outro, ser salva pelo outro. Amar o outro! Nao tinha tempo pra tentar descobrir como me amar. Isso eu ia descobrindo no caminho.
Só depois de muito tempo, muitas histórias e histórias, decepções, lutos, experiências e vivências que finalmente desencapsulei essa frase pasteurizada e pude aplica-lá organicamente a tudo que pulse verdade.Essa frase chavão começou a fazer sentido, primeiro em parte e depois inteiramente.
É porque não basta a conexão externa.
Não basta o amor em sua plena ação para com o outro. Nao basta o amor da porta pra fora.O circuito do amor é essência com essência, camada mais interna com camada mais interna, magma de si com magma do outro, passando pelas resistências das inúmeras etapas e ondulações de si , do meio e daqueles que escolhemos amar.
O Meio é o lugar do comum.
Mas eu te amo, não basta.
Não basta.
O negócio é que o arco do meio não sustenta sem as extremidades aterradas do nós.
O arco enverga e quebra abruptamente sem maiores delongas.Não basta amar e se entregar ao abismo do meio do nós, não basta mergulhar nos interstício da gente, não basta cuidar do entre somente.
É preciso restaurar as conexões afetivas internas, é importante fortalecer as ramificações de amor próprio e autoestima muitas vezes danificadas por traumas ou crenças que venham obscurecer a passagem da luz solar. É preciso o exercício do amor a si cotidianamente.Fortalecendo os fios da alma e as vigas dos afetos nas correntezas das mares de si.
Elas precisam estar em sintonia com as fases da lua, elas precisam não ter medo de ficarem em casa e de irem pra rua.Elas precisam se sustentar na ventania dos afetos que vem do norte e também do sul. Elas precisam não servir ao que o outro espera que nos sejamos. Elas precisam ser mais autoconhecimento e menos bajulação. Ela é tempo de conexão.Resposta a sua oração. Infancia curada, coração.
No eixo de si a relação entre passado, presente e futuro na materialidade afetiva do real. No tempo do corpo, sua voz faz as pazes com tudo que pulsa, sustentando vontade, verdade e encontro.
Amar é exercício, se alguém não faz o dever de casa, o circuito é interrompido, há falha na comunicação, o meio esmurece e esfacela como pães adormecidos.
O encontro com outro só é possível após o encontro consigo.O encontro com outro só é possível após o encontro do outro com ele mesmo.
O mergulho é coragem.
O meio é disposição.
E o poeta já dizia,
"Quanto mais fores o que quiseres,
mais serás o que eu queria."